Estamos no século XXI.
Tudo é aceito, e tudo é rejeitado. Uma batida única 4x4 é
apreciada por jovens que deslocam seus cabelos grandes e esticados à
165 centímetros do chão, equilibradas na ponta do pé por saltos de
acrílico. A indústria de bebidas alcoólicas recebe tubos de
dinheiro vindos da mesada ganha pelos indivíduos cujas camisas são
estampadas com jogadores de pólo, jacarés, ou até mesmo com
palavras semelhantes àquelas presentes em outdoors. Alguns deles, e
me refiro aos indomesticáveis viciados em redes sociais, tiveram sua
primeira relação sexual quando estavam bêbados o bastante para se
lembrarem a cor do cabelo da vítima alcoolizada.
Onde estão os amáveis
Shakesperianos, ou os indomáveis poetas de cafeteria que escrevem
seus encantos em guardanapos e guardam-os, ou compartilham-os em
rodas de amizade? Amor verdadeiro é uma coisa dos livros. “Livros
mudam as pessoas, e pessoas mudam o mundo”, mas se as pessoas que
mudam o mundo não são mais mudadas pelos livros, em que realmente
se deve acreditar quando tudo é apenas fantasia? “A fantasia ajuda
a manter a realidade”, mas como se pode manter algo que se deseja
mudar? Tragédias, ilusões, descontentamentos, insuficiências,
doenças. É isso que se deve manter?
Estar apaixonado não é
mais um estado de espírito, mas sim uma atração carnal exagerada
dos tempos modernos. Conceitos mudaram, e atitudes também. Não se
deve esperar o amor verdadeiro, pois ele não existe. E mesmo se
existir, até que ponto a verdade é verdadeira e segura, quando a
morte é aquilo que há de mais inabalável na vida?
Ilusões são
publicadas em livros, biografias também. Deve-se entender até que
ponto uma ficção pode ser trazida ao campo da realidade racional e
cruel do mundo contemporâneo. Não se deve repudiar uma obra
dramática e bela, e nem vangloriar-la por ela coincidentemente
abranger suas virtudes como leitor e humano, e condensar em palavras
suas patéticas percepções de mundo; não ouse ultrajar contra
minha pessoa, apenas lembre-se que a cada nova experiência suas
concepções são modificadas e, consequentemente, ampliadas - o que
torna o perfeito em ilógico, e o emocional em racional. De qualquer
modo, tudo o que é vivido não passa de uma mera brincadeira
psicológica que será esquecida no fim dos tempos.
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