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Mostrando postagens de 2014

#1 Rodrigo e Lúcia Maria

-Vó? A senhora está acordada? -Oi querido! Estou... -Vamos almoçar? Lave suas mão e venha para a cozinha. -Estou indo. "Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap" - Chineladas ecoam pelo chão do quarto até a cozinha: -Filho, você vem almoçar também? -Vou sim, vó. Estou esquentando a comida. -Certo. O silêncio se estabelece por alguns minutos... -Vó? O almoço está gostoso? -Sim, está tudo muito gostoso. Só quem não está gostosa sou eu. (Risos) -Então coma o restinho. Não deixe nada não, tem gente que não tem o que comer. -Mas filho... Sabe aqueles dias que passamos o dia sem fome nenhuma? -Sei não, vó... Eu tenho fome toda a hora... (Risos) -Coma o restinho para a senhora tomar seus remédios. -Estou comendo. -Mas não coma só a carne não, coma o arroz também, viu? -Mas a carne é mais gostosa que o arroz. -Então a senhora come o arroz primeiro para poder ficar com o gosto mais gostoso por último. Lúcia Maria olha para o neto: -Você está esperto demais. Pront

Sorrindo com os olhos

Primeiramente peço perdão por ter mentido. Talvez isso tenha desencadeado a perda do brilho nos seus olhos e sua falta de amabilidade. Ainda assim, consigo me lembrar do primeiro sorriso, tão bonito quanto o septuagésimo sexto e mais brilhante que o último. O que aconteceu? Perdemos a intimidade do abraço e o restante se tornou opaco. Pensando bem, a história começa antes... Não importa se minha matéria preferida nunca foi biologia ou se eu definitivamente não acredito no determinismo de "o que for pra ser, será". Estávamos nos desgastando como um grafite numa folha já amassada, e o desenho não estava bonito. Talvez o momento não seja oportuno, mas a verdade é que nunca o será. Vamos deixar isso de lado... Esquecer o que não podemos mais consertar, e seguir em frente. Seguir de braços abertos para um futuro desconhecido. Seguir sem a interferência de paixões nem falsas necessidades. Seguir com sorrisos nos olhos, não mais com o forçado nos lábios.

Pensamento que nem vento

Temos tão pouco tempo que o vento mesmo lento teve medo de passar Temos tão pouco tempo que o café mesmo próximo da chaminé já se deixou esfriar Temos tão pouco tempo que o pesado soneto está mais para um livreto que tem medo de se terminar Temos tão pouco tempo que a caneta perdeu sua cor, com a rapidez da escrita E entre essa e aquela Rita paramos no meio da fita e ela deixou-se enrolar Temos tão pouco tempo que o medo da sorte de um sentimento tão forte termine em morte de amor fraternal Temos tão pouco tempo que o que bastava tornou-se carente e o que nos restava acabou de acabar

Planos, projeções, vértices e o universo

Achei! O que não estava procurando. Sim, achei. Achei um livro feito de papelão cheio de crônicas meio utópicas. Achei, no fundo do meu guarda-roupa, pedaços de alguns sonhos digitados na metade de uma folha de papel. Achei que tinha me esquecido do dia em que escrevi a morte de forma corriqueira. Nostalgia. Esse foi o primeiro livro de gente que nem sabia que sabia escrever... E de outros que realmente não sabiam. Achei a “confissão de uma bomba”, algo sobre o valor dos trabalhadores e outro sobre “a droga da televisão”. Porém, todas pareciam não passar de críticas de banheiro... Aquelas que vêm à mente quando se está no banho, fazem chorar e odiar a sociedade em que se vive. Mas que duram, no máximo, quinze minutos: nada constante, porém recorrente. Depois da poeira das páginas e de muitos espirros, pois a alergia é forte, consegui reviver o dia da escrita. Não era um banheiro, mas havia críticas. Não havia choro, mas se odiava a sociedade. O local era uma sala mais ou menos

Deus escreve certo e nós somos míopes

Deus escreve certo e em linha retas. Sua caligrafia é perfeita e sua linguagem pode ser entendida por todos os países, independentemente dos idiomas. Desse modo une-se, por meio do entendimento, os diferentes povos, e essa união é tão bela a ponto de transformar um sorriso desconhecido num milagre de santidade. Todavia, muitos são os que ainda vivem na superficialidade de Seu amor, não vivendo-o em sua plenitude. O medo do salto de olhos fechados interrompe o impulso de abandonar-se Nele. Abra os olhos. Foque na beleza daquilo que lhe cerca. Tente enxergar mais além, não se prendendo apenas naquilo que está no aqui e no agora.  Muitas vezes, se é convidado para o conhecimento de pessoas porém, não se consegue infiltrar na essência presente em cada ser. Assim como na visão, precisa-se de óculos. Óculos que possam ajustar a interpretação para com aquilo que está mais distante, mais profundo. Nesse momento, observa-se a importância da persistência: ela permite uma introspecção que le

Uma segunda-feira nunca foi tão bonita

Tudo conspirou contra meu favor. O dia amanheceu chuvoso, meu chocolate acabou, meu óculos partiu-se ao meio e o despertador dormiu mais que eu. Olhei para o teto, fiz minha primeira oração. Levantei-me um pouco tonta, tropecei no ventilador, bati de frente com a parede: descobri que ela sempre foi mais forte. Segunda-feira. Chequei todos os calendários existentes, e todos pareciam rir de mim. Abri o chuveiro e, como se não bastasse, o boiler quebrou: frio. Ao sair com estalactites penduradas no nariz, descobri que meus casacos estavam na lavanderia, que o gás não quis aparecer e que só havia biscoitos no armário. Sorte do dia: Atchim! Mais uma gripe. Por ironia do destino, a água que se sustentou por entre as nuvens até o momento, decidiu cair. Andei até a esquina da farmácia protegida por um guarda chuva; o qual se rasgou assim que dobrei a rua – malditos... Não servem para nada. Ainda assim, consegui me molhar pouco. Em compensação, a fila do caixa estava enorme. Não proc

Pedras e especiarias

O amor pode ser comparado ao ato de escrever. Assim como textos, manuscritos ou digitados, curtos ou longos, cheios de vírgulas ou interrogações, não se pode vê-los sem lê-los. Todavia, sua compreensão pode ser comprometida, principalmente se não forem utilizadas as conjunções necessárias após um ponto; o qual pode tanto interromper um raciocínio como finalizar um pensamento excepcional. Mas comecemos pela introdução... Não importa se o escritor é principiante ou veterano: a linguagem do amor nunca mudará. Talvez em seu início tudo pareça perturbador, e a forma de organizar as ideias se confunda com olhares castanhos entre pedras e especiarias. O amante encontra-se emparedado em construções rochosas; o bloqueio para com a amiga razão é devido aos fortes cheiros ainda desconhecidos. Todos os sentidos tornam-se aguçados, assim como o medo. A partir de então, desenvolve-se a escolha entre a conquista ou o pulo. A primeira pode ser considerada de duas formas: escrever para si, ou

Simplesmente mulher

Ela baixou a cabeça por um dia. Sofreu com lágrimas não derramadas e por amores não correspondidos. Sentiu a solidão bater na porta, e decidiu deixá-la entrar por uma noite. Porém, assim como tudo o que se inicia tem um fim, amanheceu. Como um amante desprezado pelo orgulho, o estado de miserabilidade em que ela se encontrava foi substituído pela sua luz original, própria. Valorização. Empinou o nariz, murchou a barriga e saiu para ganhar o mundo. Conscientizou-se de que todos merecem o seu melhor. Manteve o sentimento de conquista em segundo lugar, pois em primeiro estava a sabedoria de ser divina. Sim, proveniente de Deus, e não de uma simples costela. Viveu intensamente. Aprendeu que sentimentos podem ser facilmente modificados, manipulados. Decidiu então estabelecer uma dose para cada um deles. Deu satisfação apenas a si mesma, pois daquele dia em diante nunca mais seria subordinada da própria vida, mas sim, a chefe da mesma.

Hoje

As ruas estão desertas, o silêncio predomina. São oito da manhã e os carros não buzinam, os pais não gritam e as crianças dormem. A cidade morre em vida a cada sete dias: percebe-se o quão bom é essa calmaria. Parece que é uma constante madrugada. Alguns correm pelos parques e avenidas, como se cada segundo fosse o último. Desesperados e com falta de fôlego, tentam reduzir em um final de semana o que conquistaram durante anos: barriga. Em alguns pontos isolados ainda haverá barulho, assim como na morte há vida. Mais tarde, muito provavelmente o canto das cigarras será substituído por gritos de gol, e isso marcará a preparação para o começo da semana. Observe. Hoje é o dia da calma, do sono e da paz. Domingo.