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Mostrando postagens de 2013

Flourescent Adolescent

Ela estava acostumada a usar vestidos floridos comuns. Mas em um dia chuvoso, ela teve uma crise de liberdade e fugiu para Nova Iorque, onde o número de pessoas que foram mordidas por outras pessoas é dez vezes maior do que o número de pessoas mordidas por tubarões em todo o mundo. O último namorado dela foi o amor da sua vida por sete anos, desde a primeira série. E mesmo assim ela precisava fugir. E pegou o primeiro voo, gastando metade da poupança. Chegando na cidade dos sonhos, apenas com o jeans recém comprado, uma camisa de quiosque e o All-Star de couro preto surrado, ela parecia apenas mais um clichê de filme americano. Completamente perdida com seu inglês enferrujado, levava no bolso o celular, fones de ouvido e seus documentos. Andou pela rua, e como estava (sempre) com fome, parou no primeiro restaurante que viu. Mas o primeiro restaurante não era um restaurante, propriamente dito... Era uma casa de strippers. Virando a primeira cerveja de sua vida, dançou ao som de A

Dreads

Acordo atrasada Completamente descabelada Chuva de verão Que parece mais uma monção Daquelas de inundar uma cidade Banho frio Chão gelado Parece que estou lado a lado Com uma inundação De dor de cabeça Frutas, pães, leite com chocolate Esse tempo merece um chá Matte Mas não tenho tempo para escovar um dente E não estou nem um pouco indulgente Com esse tempo nublado A carona não está mais em casa A sobrinha anda meio desgastada Chamo os elevadores pra nada E parece que o dia tende a terminar Molhado Saio do prédio Enfrento o temporal Chego na rua, em frente ao sinal Os carros são lanchas No rio asfaltadamente matinal Chego ao meu destino Com a roupa pingando O cinto caindo A gritos tenho a primeira aula Do começo da semana

Um poema para chamar de meu

Da janela do meu quarto eu posso ver O mundo inteiro ao amanhecer Sinais vermelhos no final de um corredor E outras janelas que se apresentam sem pudor Posso ouvir a vida, a morte e o purgatório Todos provenientes de um sino um tanto inglório Que a toda hora bate sem parar De amar Pulso sangue vitalício Entre artérias e vasos coronários Julgam-se os certos como fraudários E o sentimento mais puro e confuso, como mercenário da razão Livros. Fotos. Canetas. Vasos Um ultrajante da filosofia Está presente todos os dias Na reminiscência das minhas curvas cerebrais Ando às vezes perdendo o juízo Pensando em sempre ser bem preciso Na falatória do argumentar E do não se apaixonar

A culpa é de John Green

Estamos no século XXI. Tudo é aceito, e tudo é rejeitado. Uma batida única 4x4 é apreciada por jovens que deslocam seus cabelos grandes e esticados à 165 centímetros do chão, equilibradas na ponta do pé por saltos de acrílico. A indústria de bebidas alcoólicas recebe tubos de dinheiro vindos da mesada ganha pelos indivíduos cujas camisas são estampadas com jogadores de pólo, jacarés, ou até mesmo com palavras semelhantes àquelas presentes em outdoors. Alguns deles, e me refiro aos indomesticáveis viciados em redes sociais, tiveram sua primeira relação sexual quando estavam bêbados o bastante para se lembrarem a cor do cabelo da vítima alcoolizada. Onde estão os amáveis Shakesperianos, ou os indomáveis poetas de cafeteria que escrevem seus encantos em guardanapos e guardam-os, ou compartilham-os em rodas de amizade? Amor verdadeiro é uma coisa dos livros. “Livros mudam as pessoas, e pessoas mudam o mundo”, mas se as pessoas que mudam o mundo não são mais mudadas pelos livros, em que

Quatro olhos

Lá estava ela, sentada com pernas cruzadas sob dois travesseiros e um computador. Sem internet. Lastimante - e ao mesmo tempo saudável - saber que aquele era o único cômodo da casa que o sinal wifi não chegava. Esse era um dos motivos para ela estar vasculhando suas estantes de livros – tanto reais como virtuais, e tentando não se apaixonar por qualquer um que estivesse na sua lista de “Para Ler”; pelo menos até conseguir chegar ao fim dos quatro mundos retangulares e deixados um pouco de lado no seu criado-mudo. Estranho era ela rememorar o estanho dos olhos castanhos do menino de cabelos pretos. Que por um motivo muito claro, a sigla Sb veio à sua mente, e no mesmo instante criou a imagem de um sabão. O que não deveria ser um conjunto muito bom de pensamentos. Mas que poderia ser. Condicional. Tudo é bom se usarmos o “se”, o qual é, geralmente, acompanhado por um verbo. Contudo, mesmo que a ação de verbalizar algo incerto seja satisfatório - ao invés de simplesmente brincar com

Luzes amarelas e sonhos de uma noite sem estrelas

O barulho dos carros que passam nas ruas se sobrepõe aos pensamentos inquietos da sua adorável escritora. Ainda não temos teletransportes, nem civilização. As buzinas são constantes e as luzes amarelas ao fundo não parecem simples postes de iluminação. Por Deus, será que me drogaram? A noite não se apresenta tão assustadora como parecia tempos atrás. A ideia que o sol brilha em outra parte deste mesmo mundo, agora parece reconfortante. Mesmo que esteja perto da meia-noite, é uma noite sem lua cheia, sem lobisomens. E mesmo que nosso satélite reinasse brilhante no meio do céu, a ideia de que um homem peludo se desse ao trabalho de escolher justo o meu quarto, a mais de sessenta metros do chão, parece improvável. Eu sou irresistível, mas vamos e covenhamos, não é para tanto... Em algum lugar próximo a mim alguns estão dormindo, dançando, fumando, lendo, transando, trabalhando, ou atirando em outras pessoas - o que, de certa forma, não deixa de ser um trabalho; eu acho. Meus vizinhos

A adolescência é frustrante

É tão certo, mas parece tão errado. Ao mesmo tempo que é dinâmico, também é inerte, sem sabor, sem odor; sem a capacidade de ser o que não é. E o ser é bom.  Efêmero.  Incomparavelmente desnorteante e irritantemente saudável. É a limpidez que existe na lama, é a maciez de uma pedra de granito, é o sólido da água líquida.  É a vivência da morte com dor, e a dor dói, mas é insensível - no sentido mais cru da palavra.  Encontra-se o ápice e não identifica-se seu fim, mas sabe-se o resultado do todo, enquanto se tenta construir uma jornada consideravelmente intensa e leve.

Desconhecido

" Ação retrógrada, Nada me agrada, Caio no abismo levado pela avalanche Que a este enche. Junto com as distrações e enganos Não posso mais confiar em mim, Meus sentidos humanos. Caio fora do planeta, mas nunca serei sol Mato a barata com veneno aerosol Para que? Para que estou escrevendo isso? Liberdade de transcrever sem nenhum compromisso. Nem a ciência sabe tudo Por que eu deveria saber? Sou o fim desta cadeia carbônica Sou um selvagem na era eletrônica Uma imagem que se desvanece Quando perco o controle e você aparece Sua face me sorrindo, ainda estou pedindo Ao fim do que tudo foi um dia Sou eu percebendo meu corpo caindo De tantos tremores que pela madrugada podia Estar sendo o fim do que algo foi há tempos atrás Todos os nossos sentimentos contrários Por todas as nossas precipitações Agora já não é mais tão envolvente Para explicar tudo isso com poucas citações Que se concluem para agir como um solvente De todos estes me

Egoísmo, individualismo e tecnologia

Ao usar fones de ouvido, portas trancadas e grosserias desnecessárias cria-se um quadro de isolamento. Não pense apenas em adolescentes. Relembre a quantidade de vezes que os vidros dos carros estão fechados, com a desculpa do calor ou da chuva, mesmo em um dia com temperaturas amenas. Até que ponto o individualismo não se torna egoísmo? Vive-se na era da conexão: todos conectados com o mundo. A garçonete australiana sabe a cor preferida do homem ferido por um touro na festa de São Firmino, e o vestibulando de engenharia já sabe todo o mapa astral da morena do segundo ano da faculdade de medicina que é prima do irmão do melhor amigo dele. Mas você mal sabe o nome do seu vizinho, e sua mãe não faz ideia da sua nota alta em álgebra. Seu pai descobriu que você ''está em um relacionamento sério" porque atualizou o Facebook. Qual foi a última vez em que os integrantes de sua família almoçaram juntos? Em toda a história humana, com destaque para o atual período capitalis

A eternidade do minuto

A cada dia vivido, mais de mil lembranças são rememoradas em nossa mente antes de finalmente dormirmos. Podemos pausá-las, e analisar o valor que cada uma nos apresenta, de acordo com intensidade das emoções que provocam. Não importa se o tempo de caminhada é o mesmo todos os dias, ou se sempre no final do percurso o pôr-do-sol reina às suas costas; cada momento é único. Contudo, mesmo que os muitos minutos que perambulam o seu dia sejam singulares, basta um acontecimento atípico, ou um simples abraço de olhos castanhos para o universo tornar-se um grande vácuo onde o tempo não mais existe. É então que o momento se torna eterno. Eterno não por ser infinito, mas por tornar nossos sentimentos tão fortes ao ponto de termos a capacidade de guardar e reviver cada minuto em nossa mente.

Uma linda mulher

Ela estava com um vestido branco que delimitava as formosas curvas de seu corpo. O batom vermelho e os reluzentes olhos azuis coloriam a lente da câmera fotográfica. Era meu primeiro ensaio com ela. Dois metros nos separavam. Dois mundos nos cercavam. Duas horas nos restavam, dentro daquele ínfimo estúdio. Mas o tempo não existia, não na cabeça de um fotógrafo apaixonado. Ela estava deslumbrante. A cada pose formada, uma essência diferente se espalhava pelo local. Era uma sensação avassaladoramente única. Estávamos na décima terceira foto quando ela pediu uma pausa. A equipe de apoio foi ajustar alguns detalhes na roupa e na maquiagem da modelo, mas ela pediu para que todos se retirassem do estúdio, e que pudéssemos ficar à sós. Ela estava caminhando em minha direção com sua taça de champanhe na mão. Sentou-se em uma cadeira ao meu lado e ficou em silêncio por um curto período de tempo. Tempo o suficiente para que eu pudesse perceber o quão charmoso era o seu sinal do lado esq

Modus vivendi

Existe um modelo de mundo perfeito que tentamos alcançar a cada dia que se passa. Não sabemos do que se trata esse tipo de perfeição, mas não paramos de mudar nossa forma de andar, comer, vestir, morar; viver. Nosso comportamento é posto à mostra para avaliações diárias, as quais mudam com as diferentes convenções impostas através dos tempos. Comparações são feitas entre épocas, e a sociedade exclama que vivemos em um período melhor e mais desenvolvido do que o Neolítico. Mas os indivíduos estão sempre em busca de um período melhor, e ainda mais desenvolvido. Em que?! Tecnologia? Qualidade de vida? Quem garante que viver no Jardim do Éden tenha sido pior do que sobreviver à auto-destruição da sociedade humana? Se o homem evoluído consistir em possuir sua postura ereta e continuar se comportando como um ser o qual os instintos superam a racionalidade, por favor, mantenha a definição de que ele é um dos hospedeiros da Terra. Será que estamos realmente vivendo em sociedade? Porque sã

Não vale a pena ler: uma produção sem sentido

Ele gosta do seu jeito diferente de se vestir, e do seu perfume doce matinal. Ele admira os seus textos sem sentido, e decodifica-os em diversos sentidos que nem você mesma imaginou que pudessem ser decodificados. Ele sente quando você está fora do normal. Ele gosta do jeito que seus tênis não tem nada a ver com os dele. Ele consegue entender o que você acha impossível de ser entendido por alguém que não seja você mesma. Ele odeia seus surtos pragmáticos e seus movimentos calculadamente perfeitos quando você quer chamar atenção. Ele é emocional. Ele não quer ficar longe de você, mas respeita seu espaço mediocremente grande e sua contrariedade com as palavras, ações e percepções. Ele gosta da sua leitura, mas não gosta dos livros que você lê. Ele gosta quando você diz que gosta de abraços apertados, e gosta de como a sua cabeça se encaixa entre o ombro e o pescoço dele num dia de chuva. Ele acha seus poemas  sentimentalmente apelativos, mas fica curioso quando você diz que terminou um

All Star Branco

Existe um rapaz interessante Cadarços bem amarrados, óculos bem posicionados Pode-se dizer que é meu amante, um pouco meio gigante E que dos corações apaixonados, o meu bate mais acelerado Quando o vejo à metros de distância Minha intenção não era rimar Preferia descrever meu amor quase platônico Desde seu composto sub-atômico Como as micropartículas que compõe o mar Constância Não o procuro em todos os locais Mas me acho pouco capaz De conseguir esquece-lo por inteiro E faço disso um mantra verdadeiro Esperando que o acaso não ouça minhas preces Se num futuro não tão distante Nossos caminhos não se separarem Espero conhece-lo o suficiente Para nossas vidas estarem Entrelaçadas numa só Mas se o universo não conspirar à nosso favor Amor, por favor, lembre em algum momento Mesmo que seja naqueles de tormento Das nossas boas conversas de torpor Quando tínhamos medo da nossa racionalidade