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O amor é um prédio

Cientificamente falando, não sabemos lidar com muitas opções. Não sou eu que digo, é a neurociência. O cardápio que fica à tua disposição é vasto e tu nunca escolhes. A escolha, meus queridos, se tornou privilégio. Descobri isso dia desses. Mentira, foi há uns 5 anos, quase. Mas descobri que a escolha certa tem um impacto grande. É compromisso grande. E quase ninguém tá preparado, ainda. Quase ninguém tá preparado pro privilégio que é o amor. Privilégio cheio de trabalho. Eu sempre achei que o amor fosse uma questão de humanas, mas é muito mais de exatas. Bem, eu entendi que é mais simples viver o amor quando a gente racionaliza ele.  -É o que, pô? -Calma, deixa eu explicar: tudo o que é simples dá trabalho. Já fizesse um slogan? Dá um trabalho do caralho colocar 3 palavras numa frase e o resultado ficar espetacular. É simples, e deu um trabalho danado. -Fazer slogan é complexo e você sabe disso. -Dá trabalho, mas o resultado é simples. Foque no resultado. O fato é que ninguém aceita q
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Voltei

 Essa semana eu voltei a dormir tarde, voltei pra o inferno que está Recife, voltei pras antigas amizades e voltei a escrever. Por enquanto, seguimos por aqui, voltando aos poucos àquilo que uma vez já fez sentido. Toda a vez que volto, penso se vale a pena continuar. Mudei tanto de 2018 pra cá que pensei em apagar tudo o que estava por aqui, só pra começar de novo. Tipo um recomeço.  Mas pra recomeçar precisa apagar tudo o que já existiu? Acho que tudo o que aconteceu até então foi o que me fez chegar até aqui. E se eu volto, não é pelo futuro, mas pelo passado mesmo. Claro, se não fosse por ele, nada faria sentido. Uma vez ouvi que somos como folhas de papiro, que mesmo apagando o escrito mais recente, continuamos com as marcas de quem já escreveu na gente. Acho que somos assim mesmo: uma colcha de afetos e desafetos tentando mostrar pra humanidade alguma coisa que faça o mínimo de sentido. Ah, mas tem um ponto importante nessa história de idas e vindas: desde o início de tudo até ag

A intimidade

O belo está na verdades não ditas. E ao mesmo tempos ditas. Ditas sem precisar de forma. Mas precisando de sentimento, de olhar. Um olhar é descarado. Atrevido. Imprudente. Capaz de ser destruído e destrinchado apenas pela intimidade. Eu, apesar de amar as palavras, sou firme em dizer que a intimidade, uma vez construída, transforma um olhar numa poesia inteira. Numa peça de teatro. Num longa metragem. Num livro de Machado de Assis. A intimidade faz o olhar revelar se existiu ou não existiu traição de Capitu. A intimidade faz o olhar revelar o quanto de cigana oblíqua e dissimulada existe nesse mesmo olhar que procura por luzes avermelhadas em lugares escuros. Ou o quão inocente o olhar se revela quando passa pelas pontes iluminadas por luzes amarelas. A intimidade é capaz até mesmo de dizer, sem palavras, que existe inocência em olhares de cigana dissimulada. Porque se a vida é, na verdade, um Carnaval, a cigana é fantasia de criança. Ou fantasia de adulto. Ou realidade. O que

Feliz 2014

Por dois dias seguidos vi o mesmo boné. No ônibus e na parada do ônibus. Necessariamente nessa ordem. "Feliz 2014!" estava escrito nas costas do boné. Boné que vestia a cabeça de um velhinho. Velhinho que parecia o carteiro que entregava cartas na rua da minha casa, quando eu ainda morava em Recife. Saudades Recife. Lá eu nunca tive o problema com os ônibus que vão "Via Praça". Ai! Como eu tive ódio desses ônibus nessa semana… Todos os que passavam queriam me levar para o Alecrim. Ai! Como tive ódio do Alecrim. Na verdade, tive mais ódio dos ônibus "Via Praça" que nunca praçavam. Só hoje tive vontade de chorar duas vezes. Não pelos ônibus perdidos e não vindos, nem pelo término do namoro (que continua lindo, firme e forte), nem mesmo pela situação política do país, nem pela gordurinha que começa a se acumular em alguma parte ainda não vista pelos meus olhos, mas vistos pelos olhos dessa consciência hipocondríaca, vaidosa e meio desorientada que insiste

Ah, falta de ar...

Voltando da universidade para casa, me percebi sem ar. "Deve ter sido aquele café mais cafeinado que me deixou mais ansiosa", pensei. Passei pelo Departamento de Astronomia, ou de algo parecido. Sempre achei que aquele departamento tivesse cara de astronomia. Fica num terreno elevado, e a pracinha é cheia de pessoas que sempre parecem estar no mundo da lua. Me sinto em casa: sempre gostei do céu. Ao passar pela portaria - antes de chegar noutro departamento para passar por outro departamento e então conseguir sair da universidade - às 19h15 costumo cruzar com o vigia, ou porteiro, ou recepcionista ou vigia-porteiro-recepcionista do departamento. "Boa noite, filha", ele sempre cumprimenta. Passando pelo outro departamento antes de chegar no último departamento para então sair da universidade, encontrei duas pessoas que também estavam sem ar. Mas por um motivo diferente do meu. Nem sei se eram duas pessoas, parecia uma só. Não sei quem estava com mais falta de ar, s

Baila!

Sobre o aprendizado: aprendi que a gente vai sempre aprendendo. No gerúndio mesmo. Com um verbo de ação mesmo. Com repetição mesmo. A gente vai se fazendo, vai se construindo, vai se quebrando e vai se reconstruindo. A gente toma um sorvete pra passar a dor de dente, e deixa de tomar sorvete por causa da dor de garganta. A gente tenta achar uma fórmula para a vida mas, na verdade, a vida é um tubo de ensaio: tudo é experimentação. Estou descobrindo histórias de pessoas comuns. Tempinhos atrás eu gostaria de expor essas vidas incríveis numa tela de TV. Ou num programa de rádio. Ou num post na internet. Ou num instories. Hoje eu só quero guardá-las num potinho. Daqueles coloridos e brilhantes que enfeitam prateleiras. Entendi que pessoas que brilham me dão brilho - e eu sempre gostei de uma purpurina. É feliz ser cintilante. Resplandecente como o sol das 9h da manhã. A madrugada é interessante, de verdade. Mas você já saiu de casa às 8h? É incrível. É luzente. É brilhante. Já saiu de c

Constante

Às vezes lembro das minhas aulas de matemática do ensino médio. Especificamente aulas de geometria espacial e probabilidade e estatística. Nunca achei que a comunicação tivesse tanta matemática como realmente tem. Nem o amor.  David tinha abastecido o carro, e estava tentando descobrir quantos litros tinha dado em um litro. Achei que os engenheiros não precisassem de calculadoras: ledo engano. Outro engano também foi achar que engenheiros sabiam trocar torneira... Não aprendem isso na faculdade!  Nunca gostei dessa raça exata, sabe? Esses seres dotados de capacidades estranhas com números, formas e padrões. Ai que agonia! Mas logo eu, uma aquarela, fui me misturar com essa gente. E descobri que são tragáveis.  Acho que David é excessão, porque nunca entendi como engenheiros podem ser tão calmos. Deve ser porque ele vive no mundo da Lua, cercado por nuvens e aviões. Gente grande, que sonha alto e mora na rua do Ouro. Uma peça brilhante e valiosa no meio da poeira constante da vida.