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Mostrando postagens de maio, 2014

Simplesmente mulher

Ela baixou a cabeça por um dia. Sofreu com lágrimas não derramadas e por amores não correspondidos. Sentiu a solidão bater na porta, e decidiu deixá-la entrar por uma noite. Porém, assim como tudo o que se inicia tem um fim, amanheceu. Como um amante desprezado pelo orgulho, o estado de miserabilidade em que ela se encontrava foi substituído pela sua luz original, própria. Valorização. Empinou o nariz, murchou a barriga e saiu para ganhar o mundo. Conscientizou-se de que todos merecem o seu melhor. Manteve o sentimento de conquista em segundo lugar, pois em primeiro estava a sabedoria de ser divina. Sim, proveniente de Deus, e não de uma simples costela. Viveu intensamente. Aprendeu que sentimentos podem ser facilmente modificados, manipulados. Decidiu então estabelecer uma dose para cada um deles. Deu satisfação apenas a si mesma, pois daquele dia em diante nunca mais seria subordinada da própria vida, mas sim, a chefe da mesma.

Hoje

As ruas estão desertas, o silêncio predomina. São oito da manhã e os carros não buzinam, os pais não gritam e as crianças dormem. A cidade morre em vida a cada sete dias: percebe-se o quão bom é essa calmaria. Parece que é uma constante madrugada. Alguns correm pelos parques e avenidas, como se cada segundo fosse o último. Desesperados e com falta de fôlego, tentam reduzir em um final de semana o que conquistaram durante anos: barriga. Em alguns pontos isolados ainda haverá barulho, assim como na morte há vida. Mais tarde, muito provavelmente o canto das cigarras será substituído por gritos de gol, e isso marcará a preparação para o começo da semana. Observe. Hoje é o dia da calma, do sono e da paz. Domingo.

Um pouco dele

Disse uma vez um químico que “todo o sistema caminha para um aumento de entropia” = desordem. Bendito seja aquele que descobriu o funcionamento da vida. Tudo parecia em perfeita organização e, com licença poética, cronometricamente encaixado em seu devido lugar. E então aconteceu. Caos. Nada parece ter sentido.   Nem a falta que fazia sentido parece ter sentido a falta que o sentido faz. E que ao mesmo tempo não faz. Ao aprofundar-se na busca pela ordem, sente-se em algum lugar. Sente-se cada vez mais incompleto, mais cheio de nada. Vazio por um todo. Fatores, vetores, dores, amores. Nem ao menos um soneto sai da alma. Dentro de um coração depredado pelo platonismo, talvez os verdadeiros sentimentos tenham se tornado poeira, que avança por onde o vento sopra. Morte. Seria tu o causador de tanta confusão?