Pular para o conteúdo principal

Quando tudo o que se quer é não querer

Ouvi dizer que de tudo fica um pouco, não muito. Um pouco de fome, um pouco de saudade, um pouco de raiva, um pouco de sono... Um pouco de vida afinal. Os dias se rastejam rapidamente, e o nosso filtro, de natureza racional, cataloga e engaveta boa parte da rotina em nosso criado-mudo mental.
Cautelosamente, as emoções invadem o âmago da razão e mexem em todos os circuitos bem elaborados. Os eletrodos são danificados, e as chaves de cada gaveta é encontrada. Arquivos são revirados, notas são acrescentadas em diversos post it, e então, tudo se torna caos. Tudo. Inclusive os pequenos acontecimentos, que a razão separou na última gaveta, com a identificação "nada importante".
O que se têm em mãos, ou melhor, o que se tem em mente, é uma contínua confusão. Uma sensação de que tudo está errado; embora que aquilo que definiu o bom e o ruim tenha sido apenas a metade concreta do seu ser. A abstração, que também permeia seu consciente, está satisfeita com a aparente desordem que toma conta de todas as suas células. A batalha ainda não terminou, pois as pastas continuam a serem organizadas à medida que se desorganizam. A barafunda não estagna, e não se tem mais noção do que se quer.
A cada pensamento, o ser embarafusta-se num vácuo cheio de tudo, e repleto de nada. Os olhos doem, a vista cansa, e o coração dispara. O que fazer quando não se sabe o que fazer? O movimento mantém a vida, a morte é a paralisação. O que fazer quando tudo o que se quer é não querer?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A intimidade

O belo está na verdades não ditas. E ao mesmo tempos ditas. Ditas sem precisar de forma. Mas precisando de sentimento, de olhar. Um olhar é descarado. Atrevido. Imprudente. Capaz de ser destruído e destrinchado apenas pela intimidade. Eu, apesar de amar as palavras, sou firme em dizer que a intimidade, uma vez construída, transforma um olhar numa poesia inteira. Numa peça de teatro. Num longa metragem. Num livro de Machado de Assis. A intimidade faz o olhar revelar se existiu ou não existiu traição de Capitu. A intimidade faz o olhar revelar o quanto de cigana oblíqua e dissimulada existe nesse mesmo olhar que procura por luzes avermelhadas em lugares escuros. Ou o quão inocente o olhar se revela quando passa pelas pontes iluminadas por luzes amarelas. A intimidade é capaz até mesmo de dizer, sem palavras, que existe inocência em olhares de cigana dissimulada. Porque se a vida é, na verdade, um Carnaval, a cigana é fantasia de criança. Ou fantasia de adulto. Ou realidade. O que...

O amor é um prédio

Cientificamente falando, não sabemos lidar com muitas opções. Não sou eu que digo, é a neurociência. O cardápio que fica à tua disposição é vasto e tu nunca escolhes. A escolha, meus queridos, se tornou privilégio. Descobri isso dia desses. Mentira, foi há uns 5 anos, quase. Mas descobri que a escolha certa tem um impacto grande. É compromisso grande. E quase ninguém tá preparado, ainda. Quase ninguém tá preparado pro privilégio que é o amor. Privilégio cheio de trabalho. Eu sempre achei que o amor fosse uma questão de humanas, mas é muito mais de exatas. Bem, eu entendi que é mais simples viver o amor quando a gente racionaliza ele.  -É o que, pô? -Calma, deixa eu explicar: tudo o que é simples dá trabalho. Já fizesse um slogan? Dá um trabalho do caralho colocar 3 palavras numa frase e o resultado ficar espetacular. É simples, e deu um trabalho danado. -Fazer slogan é complexo e você sabe disso. -Dá trabalho, mas o resultado é simples. Foque no resultado. O fato é que ninguém acei...

Baila!

Sobre o aprendizado: aprendi que a gente vai sempre aprendendo. No gerúndio mesmo. Com um verbo de ação mesmo. Com repetição mesmo. A gente vai se fazendo, vai se construindo, vai se quebrando e vai se reconstruindo. A gente toma um sorvete pra passar a dor de dente, e deixa de tomar sorvete por causa da dor de garganta. A gente tenta achar uma fórmula para a vida mas, na verdade, a vida é um tubo de ensaio: tudo é experimentação. Estou descobrindo histórias de pessoas comuns. Tempinhos atrás eu gostaria de expor essas vidas incríveis numa tela de TV. Ou num programa de rádio. Ou num post na internet. Ou num instories. Hoje eu só quero guardá-las num potinho. Daqueles coloridos e brilhantes que enfeitam prateleiras. Entendi que pessoas que brilham me dão brilho - e eu sempre gostei de uma purpurina. É feliz ser cintilante. Resplandecente como o sol das 9h da manhã. A madrugada é interessante, de verdade. Mas você já saiu de casa às 8h? É incrível. É luzente. É brilhante. Já saiu de c...