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Quando tudo o que se quer é não querer

Ouvi dizer que de tudo fica um pouco, não muito. Um pouco de fome, um pouco de saudade, um pouco de raiva, um pouco de sono... Um pouco de vida afinal. Os dias se rastejam rapidamente, e o nosso filtro, de natureza racional, cataloga e engaveta boa parte da rotina em nosso criado-mudo mental.
Cautelosamente, as emoções invadem o âmago da razão e mexem em todos os circuitos bem elaborados. Os eletrodos são danificados, e as chaves de cada gaveta é encontrada. Arquivos são revirados, notas são acrescentadas em diversos post it, e então, tudo se torna caos. Tudo. Inclusive os pequenos acontecimentos, que a razão separou na última gaveta, com a identificação "nada importante".
O que se têm em mãos, ou melhor, o que se tem em mente, é uma contínua confusão. Uma sensação de que tudo está errado; embora que aquilo que definiu o bom e o ruim tenha sido apenas a metade concreta do seu ser. A abstração, que também permeia seu consciente, está satisfeita com a aparente desordem que toma conta de todas as suas células. A batalha ainda não terminou, pois as pastas continuam a serem organizadas à medida que se desorganizam. A barafunda não estagna, e não se tem mais noção do que se quer.
A cada pensamento, o ser embarafusta-se num vácuo cheio de tudo, e repleto de nada. Os olhos doem, a vista cansa, e o coração dispara. O que fazer quando não se sabe o que fazer? O movimento mantém a vida, a morte é a paralisação. O que fazer quando tudo o que se quer é não querer?

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