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Loucura



A última gaveta do meu criado mudo está bagunçada. A penúltima e a antepenúltima também. Meu guarda-roupa está a ponto de nenhum lençol ser encontrado. Minha bancada de estudos é um bom exemplo do caos. A dúvida cruel entre a primeira ou terceira pessoa permeia as dobras mais insignificantes do meu cérebro astuto. Em meio ao buraco negro instalado em minha mente, tudo ainda parece em ordem... Minha cama virou meu santuário.
 Ó calor, senhor da vida e da morte, serias tu o difusor das minhas emoções? O suor já é algo que tiras de mim; a maquiagem já não disfarça minhas olheiras, e ainda insistes em dizer que és luz em meus caminhos? Estou cansada. Exausta. Sem paciência para acordar feliz na segunda, em paz na terça, sem esmalte na quarta, e rastejante na quinta. Amanhã será outro longo dia, que, assim como todos os outros, embirra em sempre completar vinte e quatro horas. As quais nunca são suficientemente gentis para se estenderem por mais alguns minutos, a fim de que a tarefa de biologia seja terminada sem prejudicar o sono.
Sinto falta. Falta de abraços verdadeiros, de noites mais longas, de dias mais frescos, e da vida menos agitada. Corremos contra o fluxo do tempo, e não percebemos que na linha de chegada há apenas a morte, esperando de braços abertos. Vivemos um dia a mais, ou a menos? O que importa é continuar em movimento. Pessoas estáticas não fazem do mundo um lugar complexo, e complexidade é uma característica intrínseca no ser humano. Desorganização? Talvez. Talvez apenas mais uma forma de tentar desacelerar, de tentar parar e devolver tudo ao seu lugar. Mas falta tempo, falta vida.

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