Finalmente usei minha mochila nova. Eu estava a ponto de ir na padaria comprar pão só para poder usá-la. Mas não fui à padaria, fui ao aeroporto. Antes de entrar no saguão de embarque tive que passar pelo raio x e abandonar minha mochila. Mas não estou aqui para falar dela, mas de uma senhora bastante comum.
Entrei no avião e procurei minha poltrona rezando para que não ficasse espremida entre dois lutadores de MMA. Por sorte, sentei entre uma senhora e um senhor. Inicialmente, pensei estar separando um casal, mas depois percebi que não estavam juntos. Pois bem, a senhora, que estava na poltrona da janela, tinha um ar de vó. Isso mesmo, um ar de vó. Antes da decolagem, pegou seu terço cor de rosa e começou a rezar baixinho. Não vou negar: achei que fosse daquelas católicas chatas que reclamariam da minha calça de fundo baixo e rasgada.
O avião se estabilizou no ar, e a senhora do meu lado esquerdo me perguntou se teria algum jeito de usar o celular para ficar jogando. Isso mesmo, ficar jogando. Eu disse que sim, e rapidamente ativei o modo avião do seu celular. Ao oferecerem bebida durante o voo, ela pediu água enquanto jogava "tetris" Eu pedi café enquanto escutava o novo álbum da Academia da Berlinda.
Uma hora de voo: o avião começou a descida. Aterrisamos. Um sinal da Cruz foi feito. A senhora do meu lado esquerdo reclamou: "esses aviões estão cada vez mais apertados". Eu concordei e começamos a conversar. Descobri que ela é jornalista e que ama viajar. Descobri que teve dois filhos, e que já tem dois netos. E que os filhos estudaram na mesma escola que eu. Descobri também que foi casada, mas que hoje não é mais. Saímos do avião, fui pegar minha mala. Ela me desejou boas viagens, isso mesmo, no plural. Segui com minha mochila nas costas e ela foi ao banheiro. Por um momento pensei que ela seria eu, num futuro distante. Mas pensei novamente e conclui: "não... Ela é baixinha demais, e não gosta de mochilas".
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