Pular para o conteúdo principal

Abraço

Tem dias que eu não estou para nada. Tem dias que tu estás para tudo. Tem dias que ele sonha com ela. Tem dias que ela nem sonha com ele. Tem dias que parece que tudo não pode piorar, e até pode piorar. Ou até pode melhorar... Aprendi que tudo o que aprendi pode não servir para nada - e pode inclusive servir para alguma coisa. Contraditório? Talvez. E isso é porque tu não estás na minha cabeça: estás para tudo.
Nunca pensei que pudesse me perder nos outros: essa história de se desgastar nas pessoas nunca foi para mim. Pelo contrário: sempre me achei nas pessoas, como se elas fosse pedaços de tudo o que eu fui e do que eu poderia ter sido. Cada encontro era como escrever um palimpsesto e o sorriso tomava conta do rosto como uma virose toma conta de um corpo: era até contagioso. Mas nesse dia eu não estava para nada - e me perdia nos outros.
Tem dias que parece que tudo não pode piorar - e melhora. Tem dias que tu estás para tudo e compartilhas o teu tudo com quem está para nada. Por isso gosto de laços, traços, passos: abraços. Tudo se misturando e parando e sendo e gerúndio. Não é estanque: é o movimento da pausa. Mais pacificador que essa energia em trânsito só o sentimento que fica... Não mais sou: estou sendo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Feliz 2014

Por dois dias seguidos vi o mesmo boné. No ônibus e na parada do ônibus. Necessariamente nessa ordem. "Feliz 2014!" estava escrito nas costas do boné. Boné que vestia a cabeça de um velhinho. Velhinho que parecia o carteiro que entregava cartas na rua da minha casa, quando eu ainda morava em Recife. Saudades Recife. Lá eu nunca tive o problema com os ônibus que vão "Via Praça". Ai! Como eu tive ódio desses ônibus nessa semana… Todos os que passavam queriam me levar para o Alecrim. Ai! Como tive ódio do Alecrim. Na verdade, tive mais ódio dos ônibus "Via Praça" que nunca praçavam. Só hoje tive vontade de chorar duas vezes. Não pelos ônibus perdidos e não vindos, nem pelo término do namoro (que continua lindo, firme e forte), nem mesmo pela situação política do país, nem pela gordurinha que começa a se acumular em alguma parte ainda não vista pelos meus olhos, mas vistos pelos olhos dessa consciência hipocondríaca, vaidosa e meio desorientada que insiste

Quatro olhos

Lá estava ela, sentada com pernas cruzadas sob dois travesseiros e um computador. Sem internet. Lastimante - e ao mesmo tempo saudável - saber que aquele era o único cômodo da casa que o sinal wifi não chegava. Esse era um dos motivos para ela estar vasculhando suas estantes de livros – tanto reais como virtuais, e tentando não se apaixonar por qualquer um que estivesse na sua lista de “Para Ler”; pelo menos até conseguir chegar ao fim dos quatro mundos retangulares e deixados um pouco de lado no seu criado-mudo. Estranho era ela rememorar o estanho dos olhos castanhos do menino de cabelos pretos. Que por um motivo muito claro, a sigla Sb veio à sua mente, e no mesmo instante criou a imagem de um sabão. O que não deveria ser um conjunto muito bom de pensamentos. Mas que poderia ser. Condicional. Tudo é bom se usarmos o “se”, o qual é, geralmente, acompanhado por um verbo. Contudo, mesmo que a ação de verbalizar algo incerto seja satisfatório - ao invés de simplesmente brincar com

Desconhecido

" Ação retrógrada, Nada me agrada, Caio no abismo levado pela avalanche Que a este enche. Junto com as distrações e enganos Não posso mais confiar em mim, Meus sentidos humanos. Caio fora do planeta, mas nunca serei sol Mato a barata com veneno aerosol Para que? Para que estou escrevendo isso? Liberdade de transcrever sem nenhum compromisso. Nem a ciência sabe tudo Por que eu deveria saber? Sou o fim desta cadeia carbônica Sou um selvagem na era eletrônica Uma imagem que se desvanece Quando perco o controle e você aparece Sua face me sorrindo, ainda estou pedindo Ao fim do que tudo foi um dia Sou eu percebendo meu corpo caindo De tantos tremores que pela madrugada podia Estar sendo o fim do que algo foi há tempos atrás Todos os nossos sentimentos contrários Por todas as nossas precipitações Agora já não é mais tão envolvente Para explicar tudo isso com poucas citações Que se concluem para agir como um solvente De todos estes me