Tudo conspirou contra meu favor. O dia amanheceu chuvoso, meu
chocolate acabou, meu óculos partiu-se ao meio e o despertador dormiu mais que
eu. Olhei para o teto, fiz minha primeira oração. Levantei-me um pouco tonta,
tropecei no ventilador, bati de frente com a parede: descobri que ela sempre
foi mais forte.
Segunda-feira. Chequei todos os calendários existentes, e
todos pareciam rir de mim. Abri o chuveiro e, como se não bastasse, o boiler
quebrou: frio. Ao sair com estalactites penduradas no nariz, descobri que meus
casacos estavam na lavanderia, que o gás não quis aparecer e que só havia
biscoitos no armário. Sorte do dia: Atchim! Mais uma gripe.
Por ironia do destino, a água que se sustentou por entre as
nuvens até o momento, decidiu cair. Andei até a esquina da farmácia protegida
por um guarda chuva; o qual se rasgou assim que dobrei a rua – malditos... Não
servem para nada. Ainda assim, consegui me molhar pouco. Em compensação, a fila
do caixa estava enorme.
Não procurei saber da hora, apenas contei tempo de espera
para que cada pessoa pudesse ser atendida: cento e dezenove segundos. Havia quinze
pessoas na minha frente. O sistema parou de funcionar quando eu seria a
próxima, depois de mais duas. Olhei para o chão atrás de mim: uma gota. Duas
gotas. Virei-me para saber quem estava sangrando: nada mais nada menos do que
ninguém. Eram gotas de tinta da camisa de um pintor de olhos castanhos.
Começamos a conversar.
Não me lembro do tema da conversa. Nem da sua introdução; muito
menos do desenvolvimento. Foram minutos que demoraram horas, horas que se
perderam na mesa de uma cafeteria em frente a uma banca de revistas do lado da
farmácia. Descobri que éramos dois loucos. Loucos por poesia: uma das causas de
sua camisa manchada de vermelho foi o coração pintado no estacionamento atrás
da farmácia. “Mais uma batida contra a hipertensão”. Estranho escrever isso num
estacionamento.
Porém, como já foi dito, éramos loucos. Loucos por um dia
diferente. Loucos por um começo de semana menos tedioso. Loucos por café e por
poemas rabiscados em guardanapos. Éramos loucos, e nos tornamos ainda mais
loucos, um pelo outro.
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