O amor pode ser comparado ao ato de escrever. Assim como
textos, manuscritos ou digitados, curtos ou longos, cheios de vírgulas ou
interrogações, não se pode vê-los sem lê-los. Todavia, sua compreensão pode ser
comprometida, principalmente se não forem utilizadas as conjunções necessárias
após um ponto; o qual pode tanto interromper um raciocínio como finalizar um
pensamento excepcional. Mas comecemos pela introdução...
Não importa se o escritor é principiante ou veterano: a
linguagem do amor nunca mudará. Talvez em seu início tudo pareça perturbador, e
a forma de organizar as ideias se confunda com olhares castanhos entre pedras e
especiarias. O amante encontra-se emparedado em construções rochosas; o
bloqueio para com a amiga razão é devido aos fortes cheiros ainda
desconhecidos. Todos os sentidos tornam-se aguçados, assim como o medo.
A partir de então, desenvolve-se a escolha entre a conquista
ou o pulo. A primeira pode ser considerada de duas formas: escrever para si, ou
escrever para os outros. De certa forma, a conquista pela conquista é vazia,
egoísta, insegura. Embora, para agradar ao público, formado por apenas um
leitor crítico, necessitam-se geralmente de dois ou três parágrafos – quase um
texto argumentativo: complexo, bem desenvolvido, cheio de si. Contudo o pulo às
vezes é o mais escolhido: escrever um título qualquer é mais fácil do que
desenvolver o tema.
Escrever é para os corajosos. Amar também. Conhecer o
significado de cada letra e o modo como, juntas, mexem com o ser das pessoas é
impagável. Para os calculistas, temerosos de um tiro no escuro, não se
recomenda essa aventura... Afinal, mesmo sendo o amor tão abstrato quanto
números e, sabendo que até eles podem ser quebrados em pequenos infinitos, não
se pode medir o amar. Assim como a escrita é algo inconcluso, o amor também o
é. Talvez, por isso, seja tão belo: compreensível, porém indescritível.
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