Pular para o conteúdo principal

Quando dói

Às vezes minhas escolhas doem no peito. Às vezes o coração fica do tamanho de uma ervilha, bem engelhada. O peito aperta, o nariz coriza e levanto a cabeça. Tento ficar perto quando estou longe, mas quando estou perto permaneço longe. É muita coisa, eu sei. É culpa minha, eu sei. Culpa dessa minha mania de querer abraçar o mundo com as pernas, os braços e os dedos. Culpa dessa minha mania de colocar uma coisa na cabeça e lutar até o fim por ela.
E dói. Dói aquela dor que faz a gente crescer, ficar mais forte, reconhecer que somos falhos e que nunca podemos estar em três lugares ao mesmo tempo. Fisicamente, podemos em dois - sim, podemos. Mas quando falamos da alma, só podemos estar em um. É por isso que dói: eu não fui feita pra olhar pra o trilho sem admirar a paisagem, sem olhar pra trás e querer ver o detalhe daquela árvore que sumiu com a pressa do trem, sem olhar pra frente buscando o que tem de novo no horizonte.
São tantos livros, são tantas vivências: são experiências únicas e temos que priorizar as coisas. E quando a gente prioriza o que poderia esperar? Dói! É como colocar uma pauta fria no lugar daquela quentíssima e receber a maior bronca do chefe. O ruim é quando somos liberais e somos o subordinado e o próprio chefe. Aí dói. Dói e a gente aprente: porque quem é perturbado só aprende com a dor mesmo... Dói, a gente sofre, a gente se despedaça e se reconstrói. Vê que o caminho estava meio troncho, sem rumo, que era só coisa de gente que mete a cara nos cantos porque gosta de tentar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Voo 3087

Finalmente usei minha mochila nova. Eu estava a ponto de ir na padaria comprar pão só para poder usá-la. Mas não fui à padaria, fui ao aeroporto. Antes de entrar no saguão de embarque tive que passar pelo raio x e abandonar minha mochila. Mas não estou aqui para falar dela, mas de uma senhora bastante comum. Entrei no avião e procurei minha poltrona rezando para que não ficasse espremida entre dois lutadores de MMA. Por sorte, sentei entre uma senhora e um senhor. Inicialmente,  pensei estar separando um casal, mas depois percebi que não estavam juntos. Pois bem, a senhora, que estava na poltrona da janela, tinha um ar de vó. Isso mesmo, um ar de vó. Antes da decolagem, pegou seu terço cor de rosa e começou a rezar baixinho. Não vou negar: achei que fosse daquelas católicas chatas que reclamariam da minha calça de fundo baixo e rasgada. O avião se estabilizou no ar, e a senhora do meu lado esquerdo me perguntou se teria algum jeito de usar o celular para ficar jogando. Isso mesmo,

Impunidade

Desperdiçam-se vidas. A morte é tolerada como mais um detalhe na grande malha colorida do carnaval. Na festa que tudo permite, as perdas são banalizadas, e os ganhos são contabilizados por beijos ou transas. A saúde se fantasia com preservativos; fronteiras entre a brincadeira e a seriedade são violadas, gerando a fragmentação dos valores éticos e sociais. Após quatorze anos de espera por um rim, uma mãe de família é privada de recebê-lo. E a causa não é a falta do órgão, mas de médicos dispostos a perderem um desfile das escolas de samba em troca de uma vida. Chamem os justiceiros. A moral foi mais uma vez corrompida. Todavia, os malfeitores não são ladrões de sucos ou de carteiras, são frequentadores de universidades, componentes da alta classe da sociedade brasileira. Os cidadãos se dizem cansados com a falta de respeito do governo. Na tentativa de curar um câncer político, mutilam órgãos e células que não passam de vítimas da doença há muito impregnada no corpo social. Os cér

Os males existem para algum bem

Nada é, inteiramente, ruim: em um mesmo caso dois lados podem ser observados. Muitas vezes, porém, a maldade é mantida como versão exclusiva. Dessa forma, acontecimentos são julgados pelos seus desdobramentos, e não pelas suas causas. Assim, a focalização das tragédias é feita na essência: o drama. Quantas vezes sabe-se de uma enchente que prejudicou o abastecimento elétrico de uma região e o primeiro pensamento foi acerca das perdas decorrentes disso? Ou algo mais devastador: quantas vezes se observa um atentado terrorista e julga-se, instantaneamente, como um ato incomparavelmente absurdo? Todavia, deve existir outro modo de pensar. As empresas especializadas no aluguel de geradores claramente se beneficiaram com a situação; do mesmo modo que fundamentalistas comemoraram por terem defendido o nome e a imagem de seu Profeta. É sabido que nenhum ato mortal é justificável. Com base nisso, pode-se dizer que alguns limites são necessários e a tolerância deve ser fundamental. Dessa fo