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Pobre do poeta que não sente

Hoje eu acordei cedo, não fui pra academia e comi pão de queijo. Tentei dormir antes das 20h pra acordar antes das 5h. Respirei fundo e não consegui ar. Embolei na cama. Lembrei de todas as técnicas de mindfulness e da respiração diafragmática. Respirei fundo e não consegui ar. Relembrei que às vezes é bom chorar, mesmo sem motivo.
Chorar por uma dorzinha no meio das costelas, chorar pelos calos nos dedos da mão e do pé, chorar pelo leite derramado (fora do liquidificador). Chorar pelo café queimado, pela roupa não passada e pela juba de leão que aparece sempre que acordo. Ou sempre que não acordo pois não dormi: já se passa das 20h. Não pretendo mais acordar antes das 5h. Acho que vou chorar até por isso. Chorar por medo de qualquer coisa ou por medo de nada. Chorar pra lavar a córnea, chorar pra lubrificar o olho: qualquer motivo serve.
Já se passa das 21h e o choro começa a cessar. O nariz começa a entupir - e aí queremos chorar de novo porquê já choramos uma vez. Então lembramos de tudo que temos saudade, e lembramos até daquilo que um dia podemos não ter. Nessas horas o choro vai até de madrugada. Adormecemos. Acordamos - com a mesma juba de quem acaba de acordar. E sorrimos. Sorrimos pelo sol que faz lá fora, pelos passarinhos cantando na árvore próxima e sorrimos do café que não queimou. Sorrimos pelo dia novo que surgiu e pelas possibilidades dos muitos outros sorrisos. E aí a gente ri, lembra do choro, percebe que passou. E que durou pouco. E ri de novo.

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