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Essa é pra você

O cheiro já é familiar, o abraço enlaça e envolve. A máquina de jornal funciona antes da meia-noite, aquelas ruas são iluminadas de amarelo durante a madrugada, as pessoas jogam dominó na calçada, as pessoas saem para trabalhar quando o sol ainda nem surgiu. Seus olhos pouco abertos, suas mãos quase fechando em nós.
Luzes amarelas, luzes azuis, ônibus, música, barulho e silêncio. Silêncio, latidos e embreagem. Amor, o carro quase morreu: vamos trocar de lugar, voltar pra casa e tomar café. Voltar pra casa e receber rosas, voltar pra casa e jantar. Voltar pra casa e voltar pra casa. Voltar um dia, voltar um mês, voltar dois meses. Voltar no parque, na praia, na creperia, no alto da Sé, na quadra, no shopping. A gente sempre volta. Volta na padaria, onde tem aquele sonho que já é bem real. 
Tudo permanece: desde os calos dos meus pés até seus olhos bonitos. A gente permanece. 


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