Chicoteadas no pelourinho do senhor Tempo, as pessoas tentam
lembrar o dia em que perderam sua liberdade. Sucumbidas pela imensidão das
futilidades, buscam preencher seus horários em troca de momentos emocionantes.
Enquanto vivem na espera da alforria, morrem a cada minuto passado.
Mil e
uma obras são atribuídas para um ínfimo dia. A mente trabalha e os músculos tencionam.
Carrascos saudáveis e milimetricamente torneados gritam durante vinte e quatro
horas: “Compre!”, “Malhe!”, “Use!”. A carne é fraca, o cérebro não suporta
tanta pressão. É preciso não enlouquecer.
Na tentativa de extravasar
sentimentos reprimidos, valorizam a perda de si próprios para ganharem aquilo
que é aceito. E sem raciocinar a efemeridade do conforto que lhe será concedido,
são cada vez mais hipnotizados por promessas apaixonantes e irreais, feitas por
colonos que se aproveitam para tomar posse da terra mais preciosa: a essência
do ser.Vende-se a alma por um emprego que propicie um bom status, ou simplesmente um salário. Burgueses possuidores de capital são subjugados pelo modelo econômico e social que criaram. Sentem-se exauridos pela mordaça que os impede de expor divergências para com o sistema, e fazem da vida uma eterna corrida pelo “mais”, pois não se sentem preenchidos com o necessário, o suficiente.
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