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Flourescent Adolescent

Ela estava acostumada a usar vestidos floridos comuns. Mas em um dia chuvoso, ela teve uma crise de liberdade e fugiu para Nova Iorque, onde o número de pessoas que foram mordidas por outras pessoas é dez vezes maior do que o número de pessoas mordidas por tubarões em todo o mundo.
O último namorado dela foi o amor da sua vida por sete anos, desde a primeira série. E mesmo assim ela precisava fugir. E pegou o primeiro voo, gastando metade da poupança.
Chegando na cidade dos sonhos, apenas com o jeans recém comprado, uma camisa de quiosque e o All-Star de couro preto surrado, ela parecia apenas mais um clichê de filme americano. Completamente perdida com seu inglês enferrujado, levava no bolso o celular, fones de ouvido e seus documentos. Andou pela rua, e como estava (sempre) com fome, parou no primeiro restaurante que viu. Mas o primeiro restaurante não era um restaurante, propriamente dito... Era uma casa de strippers.
Virando a primeira cerveja de sua vida, dançou ao som de Arctic Monkeys, e avistou no final do salão o seu irmão mais velho, olhando-a como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. Ela se dirigiu até ele, e ele a colocou em um taxi.
No meio da viajem, ela abriu a porta e rolou pelo chão. A parte direita de seu corpo ficou muito arranhada, mas ela logo se levantou e correu por uma rua sem saída. À sua direita encontrou um motoqueiro numa Harley, que estava fumando enquanto uma prostituta estava agachada ao seu lado. Ela o reconheceu. Era o garoto-homem que tinha vindo ao seu lado no avião. Aquele que gostava de café expresso com uma casca de limão dentro, aquele que tinha The Postal Service como sua banda preferida. Aquele que conversou com ela durante muitas madrugadas de liberdade.
Aquele que a ofereceu uma carona para um lugar não muito distante, e desconhecido por ambos. Aquele com o qual ela sonhava nas noites antes de uma prova. Aquele que ela nunca vira o rosto, pois tudo o que acontece é aquilo que nos recordamos que aconteceu, e não o que nós recordamos é que significa que realmente aconteceu daquele jeito.
Era a única parte do sonho que ela não se lembrava nele.
Prova de biologia.

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