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Mostrando postagens de março, 2016

Maldito seja o coador de café e maldita seja a falta de dose daquela que o bebe. O coador não funcionou. A bebedora não acertou. A dose foi exagerada e no fundo da caneca jaz o pó. Preto como a noite, amargo como o carvão: insignificante e desprezível.  Pior que isso só o pó da tapioca mal feita na frigideira antiaderente. "Passe um pano que sai". Sai da frigideira e vai para o pano, do pano vai para o chão, no chão continua pó. As boas línguas ainda ousam usar a desculpa do aspirador: aspirante de quê? Pó. Nada mais que isso.  Interessante, entretanto, é saber que sem o pó não haveria café. Sem o pó não haveria tapioca. Sem o pó o aspirador não teria função. Mas sem o pó também não existiria falta de dose daquela que bebe o café. Culpa de quem? Não é da presidenta, nem das estrelas. Culpa da bebedora mesmo, que erra na dose do pó do café. 

Da pessoa confusa

Como falar que quero nossas mãos novamente juntas, nossos corações se completando nos abraços e nossos olhares cruzados? Como dizer que permanecemos ligados por um mesmo ideal, por um mesmo desejo, por uma mesma história? Nem de longe conseguimos ficar definitivamente longe. O problema é que também é que nem de perto conseguimos ficar definitivamente perto.  Ainda não entendo nosso problema. Não sei se é coisa de gente parecida demais ou diferentes demais. Nesses últimos dias descobri que independentemente do que seja, haverá filósofos para explicar qualquer teoria. O problema é que precisamos saber qual a nossa teoria.  É horrível te encontrar assim nos desencantos. Naqueles momentos que a razão pesa mais que os sentimentos - sejam eles os mais confusos possíveis. Acredite, você até pode admitir tudo como certo e concreto, mas não vou acreditar. Também não vou admitir algo como certo e concreto: vivo pelas palavras mas sou sentimento, e sentimento certo e concreto. O problema é

Abraço

Tem dias que eu não estou para nada. Tem dias que tu estás para tudo. Tem dias que ele sonha com ela. Tem dias que ela nem sonha com ele. Tem dias que parece que tudo não pode piorar, e até pode piorar. Ou até pode melhorar... Aprendi que tudo o que aprendi pode não servir para nada - e pode inclusive servir para alguma coisa. Contraditório? Talvez. E isso é porque tu não estás na minha cabeça: estás para tudo. Nunca pensei que pudesse me perder nos outros: essa história de se desgastar nas pessoas nunca foi para mim. Pelo contrário: sempre me achei nas pessoas, como se elas fosse pedaços de tudo o que eu fui e do que eu poderia ter sido. Cada encontro era como escrever um palimpsesto e o sorriso tomava conta do rosto como uma virose toma conta de um corpo: era até contagioso. Mas nesse dia eu não estava para nada - e me perdia nos outros. Tem dias que parece que tudo não pode piorar - e melhora. Tem dias que tu estás para tudo e compartilhas o teu tudo com quem está para nada. Po

Silêncio

Aqui está tão silencioso que quase consigo escutar as batidas do meu coração. Os carros passam na rua ao lado. Espero que estejam a caminho de casa. Sim, casa mesmo: aquela "de verdade". Não é moradia, não é dormitório, não é restaurante ou qualquer outro lugar. É casa mesmo: aquele espaço que não precisa ser só seu, nem só meu. Aquele espaço que pode ser nosso e que sim, pode ter uma cozinha compartilhada. Quando somos crianças talvez nossa casa seja nossa mãe. Não, não estou falando de bebês: estou falando de criança mesmo. Aquelas crianças "de verdade" - que hoje em dia nem sei se existem mais. Aqueles projetos de gente grande que se cair abre a boca e sai correndo pra casa. Sim, aquele espaço que eu falei antes. Quando crescemos perdemos nossas casas. Plural sim: vamos nos integrando em várias casas. Perdendo umas, ganhando outras... As mudanças são trabalhosas, sempre. Mas valem a pena: aquela ultima gaveta do guarda roupa que há muito tempo não era aberta