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Mostrando postagens de abril, 2016

Azia

Olhei para cada canto da sala. Nada me remetia a um bem estar. A sala era, verdadeiramente, uma sala de estar. Mas eu nem estava nela. Estava noutro canto;  noutra cidade. Eu não estava nem em mim, nem no outro. Estava nas gotas de chuva: por aqui e por aí. Pensei comidas saudáveis, pensei em fast food, pensei até numa trufa. Trufas são gostosas. Mas não o suficiente para estarem no momento. Essa chuva lá fora só piora o sentimento de inconformidade. Chuva não combina com a manhã. Nem com a tarde. Nem com a noite. Apenas com as madrugadas. E apenas se forem madrugadas sonolentas, sem cafeína nem música. Com sala de estar, apenas. E estando na sala com trufas e fast foods e comidas saudáveis. Tudo o que complete. Chuva causa azia, desconforto, incompreensão. Nunca gostei de dias cinzas.  Se por acaso me acharem, me avisem. Me perdi no meio do caminho. Fiquei olhando por um tempo longo demais para as flores coloridas e abraçando árvores. Acho que me perdi e não sei estar. Sei ser.

Cinza, poeira e chuva

Quase não acordou. Na verdade, quase não dormiu. Nunca gostou de chuva - isso é um fato. Sempre acreditou que lavar a alma deve ser com sol, suor e mar. Vento batendo no rosto, e não chiando pelas frestas da janela como um fantasma num dia de chuva cinzento. Vento soprando maresia. O reflexo da manhã foi cinza, apesar de cinza nunca combinar com manhã. Nem com a tarde. Nem com a noite. Nem com nada. Cinza é uma mistura indecisa que não escolhe nem branco nem preto. Nem preto e branco. O reflexo da manhã também teve poeira. Ainda que a manhã combine com poeira, tinha poeira mais que o suficiente espalhada pelo chão. Chuva do lado de fora da janela e chuva do lado de dentro da janela. Sol preso no vidro da janela. O café não prestou. Tinha gosto de papel. Papel que amarga, pulso que pulsa, coração que bate, café ruim. Nunca gostou desses dias cinzas. Sempre foi cor, e explosão de cor. Mais colorida que um arco-íris, mais leve que a poeira, mais barulhenta que uma tempestade. Espaços

Das palavras

Despertador, travesseiro, lençol, banheiro, toalha, creme, roupa. Prato, fruta, grãos, fogo, água, caneca, queijo, ovo, pão, café. Prato, caneca, detergente, água, pia. Banheiro, escova, boca, toalha. Meia, tênis, luva, haltere. Um, dois,  três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, descanso. Repetições. Música, dor, cansaço, abdominal. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, descanso. Repetições. Banho, roupa. Prato, fruta, chuva, detergente, chuva, pano. Livro, marcador, caneta, caderno, celular, mensagem, livro, caneta, chuva, você.